segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Aula 5 - Introdução à Lógica

"Mox de generibus et speciebus illud quidem sive
subsistunt sive in soles nudisque intellectibus posita sunt,
sive substantia corporalia sunt an incorporalia,
et utrum separata a sensibilibus an in sensibus posita et circa
ea constantia, dicere recusabo."
Porfírio

1- Introdução

Com o fim das explanações introdutórias anteriores, damos sequência a uma importante questão para o Realismo Moderado: os predicáveis.
Toda noção da filosofia realista parte do princípio da inteligência humana e das leis que a regem. Por determinar que a inteligência humana funciona através de idéias,  considerações sobre idéias são sempre presentes na filosofia realista.
Já esboçamos anteriormente a diferença entre o Realismo Moderado e as outras correntes filosóficas no primeiro post. Resta agora especificar clara e minuciosamente a lei que determina ser a idéia exatamente a expressão mental da realidade.
Insistimos em dizer que o raciocínio opera por idéias. A proposição é uma operação intelectual que utiliza idéias como meios. Ex.: O mar é azul.
Na proposição de exemplo existem pelo menos duas idéias abstratas; a de mar e a de azul. Atribuindo-se azul ao mar através do verbo ‘ser’, estamos mencionando uma das características desse ser ‘mar’ que é o ser ‘azul’. Como tal proposição se dá no pensamento, segue-se que temos uma idéia mencionada de outra idéia.
Podendo uma idéia se referir a outra, deve-se considerar duas possibilidades:[1]
  • Afirmam algo de um sujeito em função da extensão. São os predicáveis que existem em número de 5.
  • Afirmam algo de um sujeito em função da compreensão. São os predicamentos, que existem em número de dez.
As duas possibilidades são chamadas de universais.
Ainda, Gardeil no seu tratado de lógica, afirma que o predicável é algo que possa ser encontrado em muitas coisas. E de fato, ‘azul’ pode se encontrar não só em mar, como no céu e em tantos outros seres. [2]
Já discutimos anteriormente sobre a extensão e a compreensão. Vide aqui.

2- O Predicável

O predicável é a maneira pela qual uma coisa pode ser dita pelo sujeito. [3] Também podemos chamar o predicável de universal reflexo, pois não passa de um objeto de ato de reflexão. Isso, pois somente a reflexão pode ‘separar’ o azul do mar e na proposição enunciar tal característica de mar, econtrada por fruto da sua reflexão.
Como se notou na árvore de porfírio, o gênero é determinado por uma diferença específica. Assim é que corpo se diferencia em corpo vivo e corpo não vivo (ex.: o vegetal e a pedra) através do fator ‘vida’.
As diferenças específicas são em númerode cinco:
  • Gênero (ou essência determinável): Universal relativo a seus inferiores especificamente diferente um dos outros aonde sua essência é exprimida de maneira incompleta. Ex.: O homem é animal. O cachorro é um ser vivo.
  • Espécie (ou essência determinada): Universal relativo a seus inferiores que exprime completamente sua essência. Ex.:O cão é um ser vivo sensível.
  • Diferença Específica (ou essência determinante): Universal relativo a seus inferiores que exprime sua qualidade essencial. Ex.: O homem é animal(1) racional.
  • O próprio: Universal relativo a seus inferiores como qualidade necessária. Ex.: O homem é capaz de rir.
  • O acidente: Universal relativo a seus inferiores como qualidade contingente. Ex.: Tomás é filósofo.
(1)Animal –> ser vivo sensível
(2)Contigente –> Pode ser ou não ser.
Segundo Jolivet, os universais não são coisas ou objetos de atribuição, são primeiramente entes de razão. Ao deparar com essa afirmação, pode-se perguntar imediatamente se o animal (ser vivo sensível) é apenas um ente de razão. O problema implica na questão da atribuição, aonde o universal é um modo de atribuição e não a coisa propriamente. Quando atribuo a tal ser o predicado ‘animal’, apenas exprimo desse ser sua categoria de existência. Se o ente de razão é o ente realizável apenas na inteligência, isso significa que não podemos apontar em uma direção na floresta e dizer: “Veja o animal enquanto tal.” Apenas podemos apontar em direção a um ser que possui dentre algumas características algumas que são comuns a outros seres exprimidas, ‘embaladas’ numa idéia que é a idéia de ‘animal’. Tanto é que a idéia de animal se extende a gato, a rato, a homem e a pólipo.

3- Conclusão

A língua opera exatamente por predicações. Por isso, no estudo da língua temos o sujeito e o predicado. Contudo no estudo da linguagem sujeito e predicado só são observados enquanto ferramentas da linguagem, mas ignorados enquanto seres ontológicos que são. Na realidade, a língua é apenas o sinal sonoro da idéia e tentamos por meio da língua, comunicar ao exterior o que o pensamento já estruturou. Ainda assim, não são os predicáveis meros exercícios de abstração. São mesmo a expressão do real que a inteligência agrupa e a língua exprime da forma de texto. Mais tarde discutiremos tal assunto precisamente.
A importância de se conhecer sobre os universais advém da necessidade de se colocar as proposições e inferências delas retiradas a devida realidade e aguçar a inteligência em direção da verdade, que sem a análise minuciosa da proposição e de seus universais não seria possível.

4- Bibliografia:

[1] Collin, Enrique – Manual de FIlosofia Tomista; Tomo I – pág 28
[2] Gardeil, H.D. – Introdução a Filosofia de São Tomás de Aquino; pág 206
[3] Jolivet, Regis – Tratado de Filosofia; Lógica – pág 63

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Aula 4 - Introdução à Lógica

1-Introdução
As idéias enquanto representação dos objetos podem atingir um determinado número de seres tanto internamente quanto externamente. Atingidos, podemos classificar tais seres em relação de compreensão e extensão.
2-A compreensão x Extensão
a)Compreensão
A definição de homem é animal racional. Tanto a idéia de animal quanto a idéia de racional tem seus significados próprios e independentes. Ambas se juntam para formar a idéia de homem. Nesse caso tanto animal quanto racional, estão compreendidos na idéia de homem. Assim sendo, podemos dizer com Jolivet, que a compreensão é o conteúdo de uma idéia.[1]
b)A extensão
A definição de homem é animal racional. Essa definição se aplica a Aristóteles, a Tomás de Aquino, a Brähms, a Paulo, a João, a Zumbi dos Palmares... Assim sendo, esses seres aos quais essa idéia se aplica formam a compreensão da idéia. Segundo Jolivet, extensão é o conjunto de seres aos quais tal idéia convém.[2]
2-Relacionamento
Quanto mais objetos compreenderem uma idéia, a menos seres tal idéia se extende. Assim é que a compreensão está na ordem inversa da extensão.
A idéia de animal se extende a diversos seres vivos, a medida que associamos a idéia de racional a idéia de animal, diminuímos os seres aos quais tal idéia convém. E se ainda adicionarmos a idéia de oriental (animal racional oriental -> Homem oriental) reduzimos ainda mais a extensão da idéia. Fazendo isso sequencialmente, chegaremos ao indivíduo. Percebe-se que o conteúdo, isto é, a compreensão da idéia vai aumentando em ordem inversa a sua extensão. Assim, pode-se concluir que a idéia de ser é a idéia mais extensa que existe e também a mais despojada de todas.

domingo, 4 de setembro de 2011

Aula 3 - Introdução à Lógica



"A linguagem exprime, pois, ou significa do nosso pensamento, tudo aquilo que é necessário para que uma outra inteligência, ao ouvir as palavras pronunciadas, possa apresentar a si própria o mesmo pensamento."
Jacques Maritain - Lógica Menor
1- Introdução
Aristóteles dizia que não era possível trazer as coisas à discussão e por isso trazemos as idéias que vêm substituir as coisas. Por isso se faz necessário tanto para o raciocínio quanto para a comunicação deste que se tenha precisado o termo que representa o objeto da intelecção.
Além do mais, quando enunciamos uma ou outra característica de um objeto, não enunciamos o objeto na sua totalidade, mas sim na sua parcialidade. Essa afirmação embora óbvia, é totalmente necessária quando lidamos com lógica, uma vez que através dos acidentes é que o homem conhece as coisas.
2- A Suplência
Anteriormente, vimos o significado de termo (expressão verbal da idéia). Um termo pode ter diversos significados. O termo "homem", por exemplo, pode significar o humano do sexo masculino, o ser-humano como tal entre outras coisas. Quando tomamos um termo por um dos objetos que ele significa, podemos imediatamente conhecer esse objeto. Na oração "Pedro é homem", tomamos o termo "homem" pelo significado de humano do sexo masculino e atribuímos ao ser Pedro. Imediatamente, podemos conhecer tanto a natureza de Pedro, quanto o significado que tomamos do termo.
A importância do estudo da suplência, advém de se corrigir as inferências lógicas.
No caso em que concluímos a possibilidade de separação das sílabas do ser Pedro devido ao tomar equivocadamente o termo "homem" em seu outro sentido, temos uma conclusão lógica legítima, mas uma suplência lógica ilegítima, pois não podemos tomar um termo no seus significados múltiplos e atribuí-lo a algo de significado único. Daí é que seguem inúmeros problemas da filosofia moderna, onde consideram-se a multiplicidade significativa dos termos, uma multiplicidade do real, desfazendo, portanto, toda a unidade significativa.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Bonum Faciendum



Introdução

Há muitas pessoas que clamam por justiça ao depararem-se com situações que consideram injustas e desonestas. Mas não sendo especialistas em direito, como podem clamar por justiça?

Ainda quando as pessoas afirmam ter um direito que não está previsto pela lei positiva -"Afina, eu tenho o direito de ser feliz"- parece haver algo superior à lei dos homens, que é intuitivamente conhecido por eles e que rege os princípios do Direito Positivo. A esse "algo superior" chamamos Direito Natural.

A noção de Direito Natural já tinha sido pensada por Sófocles na sua obra dramatúrica Antígona. Na obra, o rei Creonte havia proibido o sepultamento do irmão morto Polínice, ao que Antígona desobedece sob a alegação de que acima da ordem positiva do rei, haviam outras leis não escritas a serem cumpridas.



1- Essência e natureza

Há coisas que existem e coisas que não existem. As coisas que não existem não podem serdefinidas, uma vez que não possuem características individuais e reais. Já nas coisas quem existem podemos citar um conjunto de seres que a definem - por mais extenso que possa ser tal citação- já que a quantidade de seres é finita. Ao conjunto abstrato de seres que compreende um ser podemos chamar de essência. Ex.: Homem é animal, é racional, é mamífero. Os três seres que citei fazem parte da compreensão de homem. Portanto a essência diz o que é uma realidade. o conjunto de seres que o homem é, é a sua própria essência. Mas note que não é um simples conjunto de seres individuais. O homem enquanto homem é uma coisa só, portanto sua essência traduz uma espécie de pluralidade unitária, pois o homem tem uma só essência. à grosso modo é como uma receita caseira que é feita de muitos ingredientes, mas não podemos dizer que o produto da receita é o ingrediente. O produto é uma coisa só, um bolo, um cozido, um sorvete.



domingo, 24 de julho de 2011

Aula 2 - Introdução a Lógica

1-Introdução
A lógica é a ciência que rege a relação das idéias. Por isso mesmo, em lógica menor, disseca-se a ideia do ponto de vista lógico e todas as consequências da mesma no ser raciocinante, a saber o homem.

2- O Termo
O termo é a expressão verbal da ideia.[1]
É preciso distinguir entre expressão verbal e palavra. Certos idiomas precisam de duas ou palavras para designar aquilo que outros idiomas o fazem com uma palavra. Assim, temos "onnanohito" em japonês que em inglês se traduz como woman. Na língua japonesa, hito quer dizer pessoa e no é uma partícula que indica relação de posse ou propriedade. Literalmente onnanohito poderia ser traduzido por pessoa do sexo feminino. Note que apesar de usar mais de uma palavra, existe só uma ideia lógica relacionada à palavra onnanohito. O problema do idioma nao ter uma palavra para expressar a ideia é meramente prático. Da mesma maneira, o grande cão, a poderosa virtude são termos, embora possuam duas palavras cada.

3- O Sinal

O sinal é uma coisa que faz conhecer outra. Vimos na Aula 1, que a ideia é a representação mental da coisa. Podemos ter inúmeras formas de representação, a mental é uma delas. Nesse ponto de vista, a ideia é sinal do objeto, pois através dela é que conhecemos as coisas.

 




Em outra acepção a própria escrita é sinal da palavra, uma vez que a escrita faz conhecer a palavra. Além do mais, a palavra, como vimos, sendo um sinal da idéia, acaba por ser um sinal , ainda que indireto, do objeto que se conhece. Da mesma forma, a escrita pode ser um sinal indireto do objeto.

3.1- Divisão
a)O sinal pode ser classificado conforme o tempo de conhecimento em:
  • Sinal Instrumental: Conhecido antes do objeto que se conhece. É usado como intermédio do conhecimento. Assim é que a bandeira representa determinado país e uma determinada placa indica a mão da avenida.
  • Sinal Formal: É conhecido concomitantemente ao objeto. Em outras palavras é o conceito mental que vimos na Aula 1. Assim que conhecemos a idéia (sinal mental do objeto), conhecemos o objeto (nem antes, nem depois).
b)Também pode ser dividido conforme a causalidade envolvida:
  • Sinal Natural: É conhecido devido a uma relação de causa entre o objeto e o sinal. A fumaça é sinal de fogo.
  • Sinal Convencional: O objeto é conhecido devido a uma atribuição arbitrária de significado. Assim, certos sinais de fumaça podem significar guerra ou pedido de socorro.
As letras também são sinais convencionais de um som.


Na figura acima, todos os caracteres sinalizam o mesmo som, o som de "a'.

4- Conclusão
A importância de se conhecer esses termos advem da necessidade, para o lógico, de poder inteligibilizar o discurso, bem como verificar a inteligibilidade de outros discursos. Além do mais, é de suma importância ao raciocinar, esmiuçar os termos do raciocínio, uma vez que uma pequena indistinção no princípio, pode causar um erro tremendo ao final do mesmo.


5-Bibliografia
[1]Jolivet, Regis - Lógica, pág 59 e 60

sábado, 4 de junho de 2011

Aula 1 - Introdução à Lógica

Introdução à Lógica

"Es admirable la miseria y la grandeza de la simple aprehensión.

 Es admirable su miseria, porque deja de lado infinidad de aspectos de la realidad; 
pero es más admirable su grandeza porque alcanza lo esencial."
Pe Álvaro Calderón - Umbrales de la Filosofia (pág 53)

1-Introdução

É muito comum em discussões informais , o interlocutor afirmar que tal conclusão não possui lógica. Mas na maioria das vezes nenhum os interlocutores sabe realmente do que se trata.
A lógica (do grego logos) é impreterível para qualquer ciência, uma vez que toda ciência se utiliza do raciocínio para se fundamentar.
  • Lógica: Arte de conduzir o raciocínio corretamente.
Já Aristóteles, tentava justificar a Lógica como Arte e como Ciência ao mesmo tempo, uma vez que a Lógica se comporta tanto como um quanto outro. Observemos as definições Tomás de Aquino de arte e ciência:
  • Arte: Conhecimento regulador da atividade exterior. (Recta Rabo Factibilium)
  • Ciência: Conhecimento desinteressado das coisas pelas suas causas. (Cognitio per Causas)
Ora, nessas duas acepções, vemos que a Lógica se encaixa. Se encaixa na acepção de Arte, pois a Lógica possui um conjunto de regras e orientações que vêm dirigir uma atividade exterior, no caso o raciocínio. E se encaixa na acepção de Ciência, pois a Lógica é um conjunto de conhecimentos desinteressados acerca de algo, a saber: as operações do Espírito.