segunda-feira, 30 de julho de 2012

Aula 13 - Introdução à Lógica

"Uma ideia definida é como um botão convertido em flor.
Enrique Collin
1 - Introdução
    À pergunta "O que é" respondemos com uma definição [1]. Mais claramente: respondemos com a essência do objeto. Assim se perguntarmos o que é homem, deve-se responder animal racional. Saber o que a coisa é, em outras palavras dizer a essência da coisa, é de suma importância para a ciência , uma vez que toda ciência tem um objeto. Uma ciência do homem, precisa saber o que é homem (animal racional) para então debruçar a razão sobre tal objeto. Como um alvo, o objeto precisa ser definido para ser alcançado. Um arqueiro que não sabe o que é o alvo e aonde está, não poderá acertar a flecha no alvo, a menos por acidente.
    Desta maneira, das mais importantes questões para a lógica é a definição. Etimologicamente, definir é limitar, e o limite das coisas conhecemos mediante análise da sua extensão e compreensão (vide aula 8) e dos predicáveis da coisa (vide aula 5). Logicamente, definir é explicitar a natureza da coisa ou a significação de um termo. A finalidade da definição é clarear o termo em meio a confusão dos dados sensoriais na apreensão. 
Para que sejam feitas boas definições, a Lógica nos oferece um conjunto de reflexões e regras que nos asseguram o êxito.

2- Método para definição
    Os métodos para definir algo são a síntese e a análise. (Enrique Collin)

  • Síntese - Partindo de um elemento universal que pertence ao objeto em questão para chegar , através dos gêneros inferiores sucessivos, ao gênero próximo e à diferença específica do objeto. 
  • Análise - Extraindo de diferentes sujeitos a quem se aplicam a ideia que há de se definir o elemento comum em que se baseia essa atribuição comum observando-os no caso mais comum e típico.
2.1- Exemplo de Síntese
 Caso queira se definir ser humano, deve-se ir primeiro resolvendo os gêneros mais superiores e depois os gêneros mais inferiores.
a) É ser ou não-ser? Ser.
b) É corpóreo ou imaterial? Corpóreo.
c) É vivo ou inanimado? Vivo.
d) É sensível ou vegetativo? Sensível.
e) É racional ou irracional? Racional
Assim pode-se definir homem por "ser corpóreo vivo sensível e racional". Como "ser vivo" implica que seja um ser material  e "ser vivo sensível" é a definição de animal, pode-se substituir na sentença o termo "ser vivo sensível" por "animal". O resultado final da definição é: "Animal Racional".

2.2- Exemplo de Análise
    Caso queira se definir ser humano, necessita-se aplicar a ideia aos seres aos quais convém. Assim se aplicaria a ideia de homem a Pedro, a João, a Joaquim, a Maria, a Fernando, a Júlia e a medida que se enumerarem indivíduos suficientes, procurar as características em comum: São corpóreos, são vivos, são animais, são racionais etc. E assim definir finalmente a ideia de homem: animal racional.

3- Divisão
    A definição pode se dividir em duas classes.
  • Definição nominal - É a que fixa o emprego de uma palavra, expondo a significação do termo, mas não dizendo o que a coisa é. Ex.: Definição nominal de hipócrita - falso. De nada adianta definir desse jeito, caso não se saiba o que é "falso".
  • Definição real - É a que exprime a natureza da coisa, dizendo o que é.
3.1- Tipos de Definição Real
    A definição real pode ser:
  • Extrínseca - pelas causas exteriores (eficiente e final). Ex.: Choro é resultado da dor.
  • Intrínseca - pelos elementos necessariamente ligados à essência. Ex.: Lágrima é líquido que possui tal enzima e tal sal.
  • Descritiva - pelas propriedades e pelos seus efeitos.  Ex.: Ferro é elemento de tal cor, que conduz eletricidade, possui tal e tal característica.
  • Essencial Física - pelas partes físicas essenciais, matéria e forma. Ex.: Pizza é alimento circular feito com trigo.
  • Essencial Racional - pelo gênero e diferença específica. Ex.: Homem é animal racional.
4- Regras da Definição
  1. Deve ser mais clara que o definido - Dizer que o homem é um certo ser não define a sua natureza.
  2. Deve convir a todo o definido e só ao definido - Dizer que o homem é animal não define o que é homem. Da mesma maneira dizer que o homem é animal racional de cor branca também não.
  3. Que não contenha o definido  - Dizer que a luz é um corpo luminoso não define luz.
  4. Que não seja negativa - Dizer que vegetal não é um mineral não define vegetal.
  5. Que seja breve - Uma definição muito longa torna difícil a sua utilização.
5- Limites da definição
    Há quatro casos em que não é possível a definição. São eles:
  1. Ideias simplíssimas  
  2. Noções generalíssimas
  3. Indivíduos
  4. Dados sensoriais
    As ideias muito simples como a ideia de ser não são definíveis por não haver o que clarear; ser é o que é. Noções muito gerais como qualidade, quantidade por serem gêneros supremos não possuem gêneros próximos que as definam. Os indivíduos por possuírem uma alta complexidade e compreensão são indefiníveis. Os dados sensoriais já são naturalmente claros, sem necessidade de definição para os clarear; azul é azul.

6- Conclusão
    Uma boa definição é crucial para o raciocínio Lógico.  Sempre que possível deve tentar-se criar uma definição essencial racional, mas quando não for possível, tentar utilizar as outras formas de definição. 

7- Bibliografia

Jacques Maritain - A Ordem dos Conceitos, Lógica Menor (AGIR - 13 Edição/ págs 100 a 103)
Regis Jolivet - Curso de Filosofia, Lógica e Cosmologia (AGIR - 4 Edição/ págs 71 a 73)
H. D. Gardeil - Iniciação a Filosofia de Santo Tomás de Aquino, Introdução a Lógica (L. 4 - C. 1, C. 2, C. 3 e C. 4)
Enrique Collin - Manual de Filosofia Tomista/Tomo I (Luis Gili Editor - 2 edição/ págs 36 e 37)
Pe Álvaro Calderón - Umbrales de La Filosofia [1]


sábado, 7 de julho de 2012

Da Lógica


Por conseguinte, só quando a razão domina a todos os
movimentos da alma, o homem deve se dizer perfeitamente
ordenado. Santo Agostinho - Do Livre Arbítrio

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Aula 12 - Introdução à Lógica

"São ditas análogas as realidades que apresentam entre si algumas similitudes." 
H.D. Gardeil

1- Introdução

    Uma das questões mais interessantes em lógica é o estudo da analogia. Por dois motivos:

  1. A analogia é muito utilizada para fazer entender conceitos complexos.
  2. A analogia é o método que utilizamos para perceber o ser.
    Contudo se vê claramente que é preciso uma direção para aplicar a analogia corretamente e esta direção é a lógica que nos dá.

2- Da Analogia
    A Analogia consiste em uma unidade relativa entre dois seres e, por conseguinte, entre duas ideias. Isso quer dizer que não é uma unidade do tipo matemática aonde  X = 3 e nem uma unidade linguística como burro (animal) é a mesma palavra que burro (ignorante). Uma se refere a dois termos unívocos (x e 3) a outra se refere a dois termos equívocos(burro e burro). Na verdade, a analogia consiste em um meio termo entre essas duas relações. Vejamos o que diz Santo Tomás acerca da analogia:
"As atribuições analógicas nos aparecem manifestamente como intermediárias entre as atribuições unívocas e as atribuições equívocas. No caso de univocidade, com efeito, um mesmo nome é atribuído a sujeitos diversos segundo uma razão ou uma significação semelhante, assim o termo animal reportado ao cavalo e ao boi significa substância animada sensível. No caso da equivocidade, um mesmo nome vê-se atribuído à diversos sujeitos segundo uma razão totalmente diferente, como aparece evidentemente para o nome cão, atribuído ao astro e uma certa espécie animal. No que concerne às noções ditas analogicamente, um mesmo nome é atribuído a diversos sujeitos segundo uma razão parcialmente a mesma e parcialmente diferente: diferente pelos mesmos modos de relação: a mesma por aquilo a que se reporta a relação. (...)" Metafísica , XI , 1, 3 , n 2197.
    Assim fica estabelecido que a analogia é uma certa semelhança entre dois termos ou seres.

3- Espécies de Analogia
  1. Analogia de Atribuição
    A analogia de atribuição é quando atribuímos um termo a outro termo que não o contém. Assim diz-se que maçã é saudável, mas quando na verdade, saudável só o corpo. A maçã produz a saúde.
  2. Analogia de Proporcionalidade
    É aquela analogia que se encontra na semelhança entre duas relações. Desta forma, olho está para visão como ouvido está para audição.
  • Analogia Própria - Exatamente como a anterior
  • Analogia Metafórica - Analogia em que apenas um dos analogados possui o termo analogado. É quando se diz que os campos riem, quando na verdade eles não riem e nem sequer produzem o riso objetivamente. Mas por certa similitude entre o movimento da vegetação com o movimento do lábio no riso, pode-se dizer que os campos riem. Esta analogia é muito utilizada em teologia.
Figura: Analogia de Proporcionalidade


4- Conclusão
    A analogia de atribuição é pouco utilizada cientificamente. Contudo a analogia de proporcionalidade é utilizada tanto em ciências empíricas quanto em ciências abstratas como a metafísica. Em metafísica o uso da analogia de proporcionalidade é bastante reduzido e só é utilizado na demonstração de que o ser é análogo. Já a analogia metafórica só é utilizada em teologia. 
    Assim, sabendo da ciência que se está utilizando, deve-se escolher o tipo de analogia legítimo e, caso escolha, saber aplicar a analogia corretamente, conforme o quadro acima pôde evidenciar.

5- Bibliografia
H.D. Gardeil - Introdução à Filosofia de S. Tomás de Aquino (páginas 833 a 842)
E. Collin - Manual de Filosofia Tomista (páginas 34 e 35)
R. Jolivet - Lógica e Cosmologia (páginas 70 e 71)