domingo, 4 de setembro de 2011

Aula 3 - Introdução à Lógica



"A linguagem exprime, pois, ou significa do nosso pensamento, tudo aquilo que é necessário para que uma outra inteligência, ao ouvir as palavras pronunciadas, possa apresentar a si própria o mesmo pensamento."
Jacques Maritain - Lógica Menor
1- Introdução
Aristóteles dizia que não era possível trazer as coisas à discussão e por isso trazemos as idéias que vêm substituir as coisas. Por isso se faz necessário tanto para o raciocínio quanto para a comunicação deste que se tenha precisado o termo que representa o objeto da intelecção.
Além do mais, quando enunciamos uma ou outra característica de um objeto, não enunciamos o objeto na sua totalidade, mas sim na sua parcialidade. Essa afirmação embora óbvia, é totalmente necessária quando lidamos com lógica, uma vez que através dos acidentes é que o homem conhece as coisas.
2- A Suplência
Anteriormente, vimos o significado de termo (expressão verbal da idéia). Um termo pode ter diversos significados. O termo "homem", por exemplo, pode significar o humano do sexo masculino, o ser-humano como tal entre outras coisas. Quando tomamos um termo por um dos objetos que ele significa, podemos imediatamente conhecer esse objeto. Na oração "Pedro é homem", tomamos o termo "homem" pelo significado de humano do sexo masculino e atribuímos ao ser Pedro. Imediatamente, podemos conhecer tanto a natureza de Pedro, quanto o significado que tomamos do termo.
A importância do estudo da suplência, advém de se corrigir as inferências lógicas.
No caso em que concluímos a possibilidade de separação das sílabas do ser Pedro devido ao tomar equivocadamente o termo "homem" em seu outro sentido, temos uma conclusão lógica legítima, mas uma suplência lógica ilegítima, pois não podemos tomar um termo no seus significados múltiplos e atribuí-lo a algo de significado único. Daí é que seguem inúmeros problemas da filosofia moderna, onde consideram-se a multiplicidade significativa dos termos, uma multiplicidade do real, desfazendo, portanto, toda a unidade significativa.

Suplência -> acepção de um termo em lugar de uma coisa para a qual esta substituição é
legítima.

3- Divisão da Suplência
a) Propriedade da Suplência
  • Suplência própria: Quando o termo é empregado no seu sentido próprio. Ex.: O leão é um mamífero.
    Nesse caso o termo leão tem o significado do animal que conhecemos
  • Suplência imprópria: Quando o termo é empregado em sentido figurado. Ex.: Pedro é um leão.
    Neste caso, o termo leão pode ter o significado de voraz, feroz ou algo que o leão tenha, que Pedro possa ter.
b)Natureza da Suplência
  • Suplência essencial: Quando o termo designa algo que pertence essencialmente à coisa. Na frase "Pedro é homem", homem é algo que Pedro tem que ter necessariamente para ser Pedro. Caso contrário, pedro seria essencialmente outra coisa.
  • Suplência acidental: Quando o termo designa algo que pertence acidentalmente à coisa. Na frase "Pedro é cientista", cientista não é algo que Pedro precisa ter para ser Pedro, ou melhor, não é algo essencial a Pedro. Pedro pode ser ou cientista ou futebolista ou pintor e isso não muda sua essência.
c)Realidade da Suplência
Como vimos na aula 1, seção 3, letra c, o ente pode ser real ou lógico. Caso tomemos um termo que represente um ente real ou um ente lógico, temos duas possibilidades.
  • Suplência Real: Quando o termo designa um ente real.
  • Suplência Lógica: Quando o termo designa um ente de razão.
d)Grupalidade da Suplência
  • Suplência Distributiva: Quando o termo é designado a um grupo aonde cada indivíduo adquire a característica individualmente. Na frase "Os políticos são corruptos.", cada político é corrupto individualmente, apesar da enunciação coletiva, isto é a característica se distribui à cada membro da coleção.
  • Suplência Coletiva: Quando o termo é designado a um grupo e somente em grupo é que a característica é exercida. "Os políticos são em grupo de 15", essa suplência não se aplica aos políticos individualmente.
e) Determinação da Suplência:
  • Suplência Determinada: Quando o termo se aplica a um objeto tomado em sentido determinado (específico, preciso e conhecido). ex.: "Algum homem é mentiroso" (este aqui e aquele lá)
  • Suplência Indeterminada: Quando o termo se aplica a um objeto tomado em sentido indeterminado(em geral, impreciso e desconhecido). ex.:"Algum homem é mentiroso" ( alguns homens entre os homens)
4-Conclusão:
O fato de ignorar as diferentes formas de se tomar um termo, pode levar à inúmeros erros de lógica, por isso mesmo é que Aristóteles esmiuçou as diversas formas de tomar um termo, para que, ao raciocinar, não cometamos equívocos.
5-Bibliografia:
Jolivet, Regis - Tratado de Filosofia, vol I - Lógica, pág 60 e 61.
Maritain, Jacques - Ordem dos Conceitos: Lógica Menor, Páginas 82 a 99.

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