segunda-feira, 14 de maio de 2012

Aula 11 - Introdução à Lógica


"Estamos, portanto, de acordo em que as palavras são signos."
Santo Agostinho - De Magistro

1- Introdução






A charge acima nos denuncia algo comum na linguagem: a de que as palavras podem ter diferentes significados. O cômico ali ocorre devido a um erro de lógica que é a consideração do significado das palavras. No português, a palavra "manga" pode ter dois significados ao menos: parte de uma camisa aonde enfia-se o braço ou uma fruta. Ao tomar "manga" sempre por fruta, erraríamos ao concluir que toda camisa possui uma fruta e que seria doce por isso. Obviamente na linguagem corrente e popular tais problemas não acontecem, mas nos textos de raciocínio mais delicado e abstrato aonde uma mínima diferença de significados pode determinar uma conclusão completamente errônea, é importantíssimo ter em conta o significado das palavras.
Como vimos anteriormente, as palavras são sinais da ideia. Falsos significados linguísticos podem ser sinal de falsos significados de ideias. E, se por um lado parece claro que as palavras pode ter significados diversos, não parece claro que as ideias que elas representam (bem como as ideias em geral) possuem significados diversos. Para isso a lógica estuda as ideias do ponto de vista da significação.

2- Classificação das idéias quanto a significação
Quanto a significação, uma ideia pode ter três classificações a seguir: As palavras possuem a mesma classificação.
  • Equívoca - que expressa coisas distintas.
  • Unívoca - que expressa uma coisa unicamente. 
  • Análoga - que expressam coisas distintas, mas de alguma forma semelhantes.
Assim é que a palavra "manga" é equívoca, isto é , expressa duas coisas totalmente diferentes. Já a palavra cão aplica-se tanto a Totó quanto a Zeca, embora ambos os animais pertençam a mesma espécie, são indivíduos distintos. Por este motivo, a palavra cão é unívoca, isto é, aplica-se a distintos sujeitos da mesma forma, com o mesmo significado. Por fim, a palavra ser aplica-se a vários indivíduos, mas de forma distinta. Todo ser é, mas é de forma diferente.
Outra maneira de se pensar os termos análogos é como um meio-termo entre os termos equívocos e os termos unívocos. Por isso a palavra "saudável" pode se aplicar à aparência de Pedro, ao arroz integral e ao corpo de Pedro. Como escreve Jolivet: "O alimento produz a saúde, o aspecto fisionômico a exprime, mas só o corpo a possui.". Assim podemos perceber que entre termos análogos há sempre certa relação, mas nunca total unidade e nem total distinção.


3- Significado e Interpretação
Como as palavras podem ter diversos significados, somente quando se sabe seu significado no contexto é que um texto pode fazer sentido para o leitor. Assim é que quando um autor quer despistar o real sentido das suas palavras, utiliza-se de maior quantidade de palavras ambíguas.
Os textos sagrados, como é o texto bíblico, são textos cuja interpretação depende do conhecimento do que aquelas palavras podem significar e sobretudo do conhecimento do que aquelas palavras significam em um tal contexto. De certo modo, a interpretação da Sagrada Escritura não  é para todos. Somente para os indivíduos que detenham o significado correto das palavras ali contidas. Não significa que ninguém deva conhecer a bíblia, mas significa que deve-se conhecer a bíblia através da interpretação legítima e crível de uma autoridade legitimada para exercer tal finalidade.
Não só a Sagrada Escritura tem essa propriedade, bem como qualquer livro de conteúdo aprofundado. O leigo que toma um volume de Contraponto, mas não sabe o que são os termos musicais contidos no texto, ou tirará conclusões falsas ou não concluirá nada. O leigo que abrir um livro de Física Matemática, mas não dominar os sinais que representam os diversos fenômenos físicos, também sucederá o mesmo. Por isso, pode-se dizer que de certa forma somos analfabetos para um determinado assunto, ou seja, certos signos não nos dizem nada.

4- Significado e Ser
Ainda se admitirmos que o conceito é a representação intelectual do objeto, temos que, de certa maneira, as diferentes classificações quanto ao significado dos termos podem estender-se até diferentes modos de ser da coisa que tal conceito representa. Por esse motivo será conveniente em Metafísica, analisarmos se o ser é unívoco, equívoco ou análogo. As diferentes respostas são assumidas por diferentes correntes do pensamento humano: A gnose, o panteísmo e o realismo moderado.
Segundo Orlando Fedeli em seu livro "Nos Labirintos de Eco", a gnose toma o ser por equívoco, o panteísmo toma o ser por unívoco e o realismo moderado toma o ser por análogo.
A grosso modo pode-se dizer que ou o ser é de idêntica forma em todos o seres, ou é da mesma forma no ser e no não-ser ou é de formas semelhantes, porém distintas em todos os seres.

5- Conclusão
Para análise lógica de um texto, é fundamental sua interpretação legítima, pois erros de interpretação obviamente conduzirão a erros de raciocínio, se é que já não constituem-se propriamente em erros de raciocínio.

6- Bibliografia
Santo Agostinho - De Magistro, pág 76 (Vozes 2009)
Regis Jolivet - Lógica e Cosmologia, pág 70 (AGIR 1969)
Orlando Fedeli - Nos labirintos de Eco, págs 28 a 31 (Veritas 2004)
Enrique Collin - Manual de Filosofia Tomista/Tomo I, pág 34 (Luis Gili 1950)

domingo, 6 de maio de 2012

Aula 10 - Introdução a Lógica

1- Introdução
     Relembrando a Aula 1 aonde depreendeu-se que a ideia é a representação intelectual do objeto, continuamos com as classificações das idéias, separando-as conforme sua perfeição.

2- Perfeição das Idéias

  •     Quanto a Adequação
  1. Adequada - se apresenta à inteligência todas os elementos do objeto.
  2. Inadequada - se não apresenta à inteligência todos os elementos do objeto.
    Assim, uma ideia de boi não é adequada ao gato, por não apresentar à inteligência todas os elementos do            objeto. Mesmo que a ideia de boi comporte a ideia de mamífero , sendo o gato também um mamífero ela não é suficiente para representar "gato".
  • Quanto a Claridade 
  1. Clara - se basta para fazer reconhecer seu objeto entre os outros objetos.
  2. Obscura - se não basta para fazer reconhecer seu objeto entre os outros objetos.
    Assim, dizer que Maurício é homem pouco distingue ele dos outros alunos da sala. Esse fato é bastante claro para a lógica interior do indivíduo. 
    A professora pergunta: "Quem sujou a sala?"
    Joãozinho responde: "Um ser humano!"
    Apesar de a ideia ser adequada à espécie do indivíduo que realizou tal ato, ela não esclarece qual indivíduo dentre tantos indivíduos realizou o ato.
  • Quanto a Distinção
  1. Distinta - Quando se faz conhecer os elementos que compõem seu objeto.
  2. Confusa - Quando não se faz conhecer os elementos que compõem seu objeto.
    O que se verifica na distinção das idéias é que muitas delas podem ser claras, mas ao mesmo tempo confusas. Desta forma é que o jardineiro possui uma ideia clara da flor-de-maio, mas confusa. Ao contrário, o botânico conhece todos os elementos que compõem a flor-de-maio, gineceu, androceu e suas diversas características que diferenciam a espécie. (Ver diferença específica e árvore de Porfírio)

3- Conclusão
    O conhecimento das perfeição da ideia pode auxiliar no raciocínio da seguinte maneira: 
Analisando-se uma ideia conforme sua perfeição (distinção, claridade e adequação) pode-se corrigir erros de raciocínio quando se conectam idéias as quais uma ou várias são imperfeitas. Aperfeiçoando a ideia, o raciocínio pode prosseguir seguramente seguindo as regras lógicas.

4- Bibliografia
Regis Jolivet - Curso de Filosofia, Lógica e Cosmologia (pág 71)

terça-feira, 1 de maio de 2012

Aula 9 - Introdução à Lógica

1- Introdução
    As idéias também se relacionam mutuamente. Como o raciocínio é uma concatenação de idéias, ter claramente os modos pelos quais as idéias se relacionam é um meio de ter claramente o meio pelo qual as idéias se concatenam; em outras palavras, conhecer as diferentes relações entre idéias favorece a clareza de raciocínio e essas diferentes relações são classificadas pela lógica. 

2- Relações Mútuas entre as Idéias
    As idéias podem se relacionar de 4 formas:
  • Idéias Contrárias - São idéias que admitem meio termo entre elas. Assim a ideia de cão branco é contrária a ideia de cão preto, já que pode haver um cão preto e branco.
  • Idéias Contraditórias - São idéias que não admitem meio termo entre elas. Desta maneira a ideia de desempregado é contraditória a ideia de empregado, já que não é possível ser e não ser empregado ao mesmo tempo. Em geral, ideias contraditórias são expressas uma pela negação da outra. Amizade - Inimizade; Verdadeiro - Falso; Ser - Não ser são exemplos de idéias e suas respectivas negações.
  • Idéias Privativas - São idéias que representam a ausência de qualidades em um sujeito que as possui naturalmente. Assim a ideia de homem cego em relação a  ideia de homem que vê é privativa, já que a cegueira é a privação da visão.
  • Idéias Relativas - São idéias as quais uma não se dá sem a outra. A ideia de pai é relativa a ideia de filho, já que não há um pai que não tenha tido um filho.
3- Conclusão
    Em geral quando se discorda de um indivíduo, é necessário demonstrar a ideia contraditória para que a tese adversária seja julgada falsa. Assim a tese de que o cachorro é azul só pode ser refutada a medida que fique estabelecido que o cachorro não é azul. Demonstrar que o cachorro é branco ou demonstrar que o azul é relativo ao verde não destrói completamente a tese de que o cachorro é azul. No máximo adicionam à tese notas que não haviam sido mencionadas. 

4- Bibliografia
Regis Jolivet - Manual de Filosofia, tomo I (Lógica e Cosmologia, pág 69)