quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Aula 14 - Introdução à Lógica

"Como se viu em Lógica, a demonstração 
deve proceder de princípios evidentes,
 anteriores e mais notórios que as conclusões, 
pois nada pode esclarecer-se do mais obscuro."
Pe Alvaro Calderon - Los Umbrales de La Filosofia, pág 360

1- Introdução
Como visto anteriormente definir é , sob certo aspecto, dizer o que é a coisa. Uma ideia é uma representação intelectual de um objeto, para definir-se uma ideia é necessário não só dizer qual objeto ela representa, mas também o que é este objeto. Assim, procedemos delimitando o objeto que a ideia representa, dizendo o que é e sobretudo dizendo o que não é. Esse procedimento lógico é consequência natural da extensão e compreensão dos seres e por conseguinte da extensão e compreensão das ideias.
Por outro lado, para se obter uma boa definição de uma ideia, é preciso analisar seu conteúdo, expor seus elementos, mostrar suas partes. A esse procedimento lógico chamamos de divisão.

2- A divisão
Dividir é separar um todo em partes. Assim dividir um dinheiro é separar a quantia total em partes menores. Dividir um livro é separar devidamente os capítulos. Dividir uma família é individualizar, desvincular seus parentes. Dividir uma ideia é expor corretamente seu conteúdo. 
Assim, podemos perceber que há pelo menos três formas de divisão.
  • Física
  • Lógica
  • Moral
a)Divisão Física
Um todo físico pode se distinguir em quantitativo, essencial, potencial ou acidental. De qualquer maneira, em um todo físico, as partes são bem distintas umas das outras.
O todo quantitativo é um todo cujas partes são homogêneas, quer dizer , como no caso do dinheiro em que todas as partes são homogêneas.
Ao contrário do todo quantitativo , o todo potencial é constituído por diferentes partes. O livro é constituído de capítulos essencialmente diversos.
Um todo acidental é um todo formado por partes que não são essenciais para sua formação. Pode ser o caso de uma casa, cujos tijolos estão ordenados para formar acidentalmente um imóvel ou o caso de dr. Pedro que não precisa ser médico para ser Pedro, mas ser médico é uma das partes desse ser que é o todo que chamamos Pedro.
Já um todo essencial é o inverso de todo acidental. É quando as suas partes são "essenciais" por assim dizer, para formar um todo.
Dessa forma, conforme os diferentes tipos de todo físico, haverão diferentes tipos de divisões físicas.

b)Divisão Moral
Um todo moral é um todo cujas partes estão unidas moralmente para o mesmo fim. Um exército é um exemplo de todo moral. Dividir um exército é desmembrá-lo nos seus soldados individualmente.

c)Divisão Lógica
A divisão lógica é a que propriamente nos interessa. Contudo, a exposição de outros tipos de divisões nos deixa confortáveis para entender o que é uma divisão lógica, principalmente se procedermos por analogia para chegarmos a conclusão da sua existência.
Quando analisamos a árvore de Porfírio, definimos o homem como um animal racional. Mas o que quer dizer essa definição?
Se dividirmos o termo "animal racional"  em duas partes, percebemos que há uma parte simples, o termo "racional" e uma parte composta, o termo "animal". Dividindo o termo "animal" em suas partes, percebemos que animal é um vivente sensível. E quando dividimos o termo "vivente" em suas partes, percebemos que se compõe de "ser vivo".
Isso quer dizer que a ideia de homem pode ser expressa em ser vivo sensível racional. Com a ideia dividida, podemos muito facilmente entender o que é o homem, podemos dizer o que é. 
Sabemos que o gênero é um ente de razão, realizáveis na inteligência, mas com fundamento na coisa, contudo.
Dessa forma sabemos que a  divisão lógica versa sobre entes de razão, que são os gêneros e seus gêneros subalternos.

3- Regras para uma boa divisão
A lógica é uma ciência diretiva da razão. Deste modo sempre lidaremos com regras para proceder corretamente no raciocínio. Não podia ser diferente com a divisão. Para uma divisão ser boa é preciso:
  • ser completa - enumerar todos os elementos do todo lógico
  • ser irredutível - enumerar suas partes sem redundância
  • ser fundamentada sob mesmo aspecto - enumerar princípios da mesma natureza
Conforme essas diretrizes consistiriam erros dizer que um livro é composto de capítulos e letras (elementos devem pertencer a um mesmo aspecto); um corpo é constituído de braços (falta de elementos); um corpo é constituído de braços e dedos (redundância).

5- Conclusão
O objeto da lógica é o raciocínio, o objetivo da lógica é o bom raciocínio. Como não podemos racionar a partir de conceitos obscuros, a divisão e a definição são processos altamente necessários para se proceder racionalmente.


6-Bibliografia
Pe Alvaro Calderón - Los Umbrales de la Filosofia
C. Lahr - Manual de Filosofia (pág 320 e 321)
Regis Jolivet - Curso de Filosofia, tomo I ( página 73 e 74)