sexta-feira, 25 de junho de 2010

Da existência da alma

Introdução
Todo cientista presume a existência de causas proporcionais aos efeitos observados. Essas causas ou condições determinantes, são o próprio objeto da ciência. Assim, a biologia investiga as causas que mantém a vida nos corpos animados e a física investiga as condições que determinam as relações de força entre os objetos puramente materiais.
Com a psicologia não pode ser diferente. De fato, houveram tentativas de explicar a atividade consciente através da física/química. Para essas correntes, a atividade psíquica não passaria de mecanismo que responderia tão somente às leis físicas.
O fato é que mesmo as leis físicas fazem abstrações da realidade para lidar com as causas particulares. O médico encara a água como causa da hidratação dos seres vivos. Para o químico, a água pode ser um composto de hidrogênio e oxigênio (H2O). Essas relações de causa e efeito devem ser abstraídas umas em prol das outras. O químico ignora as causas quânticas que existem entre as partículas, já que não é necessário conhecê-las em primeira instância para determinar que da composição entre oxigênio e hidrogênio exista a água. Contudo, água não é somente a reunião entre esses dois elementos, nem tampouco somente a substância hidratante para os seres vivos. Ela é tudo isso ao mesmo tempo. É possível, nas ciências da natureza, ignorar as finalidades dos objetos estudados para que se possa entender suas relações internas. Isso não ocorre com a psicologia.
A consciência não pode ser observada somente como um aglomerado de objetos (sensações, percepções, inteligência, vontade etc), por isso o objeto da psicologia não pode abstrair os seus elementos como se cada um tivesse um determinismo próprio. Por isso, há que se entender o sujeito psicológico como um todo, significando que o determinismo psicológico deverá ser encarado como um princípio finalista.


1- A percepção
a) Distinção e definição
Primeiro se faz necessário distinguir a percepção da sensação.
-> Sensação: Fenômeno psíquico determinado pela modificação de um órgão sensorial.
É quando a luz azul atinge nossos olhos. Eles são afetados de tal forma, que sensibilizam o sujeito psicológico em relação àquele dado sensorial. É possível ainda, distinguir na sensação dois processos diferentes. São eles o conhecimento da coisa (da cor azul, por exemplo) e um estado afetivo ( dor ou prazer). Esse fenômeno causa uma reação motora do sujeito que sente, como repulsa (no caso da dor), atenção, interesse etc.
-> Percepção: uma espécie de dado sensorial afetado de significação. Podemos notar, então, que a sensação é apenas parte do processo perceptivo. O que é preciso frisar, é o fato de que a significação emprestada pelo sujeito psicológico ao objeto da percepção, não é arbitrária. Ela é parte essencial do objeto perceptível, que no momento da percepção se faz revelar ao sujeito cognoscente.
B) Primazia do todo
Dentre as diversas leis que governam a percepção, a lei da unificação funcional é a que nos interessa na demonstração da existência da alma. Segundo essa lei, a percepção apenas percebe os elementos mediante a apresentação do todo. Assim, um objeto de cor preta fica bem mais perceptível num fundo de cor branca. Um refrigerante perde o gosto doce, se comermos sobremesa antes. Podemos compreender o significado de uma frase, se nos falta uma palavra, podendo inclusive conhecer o significado da palavra através da frase. Sem essa lei, não seria possível, nunca, reconhecer um amigo na rua. Pois a medida que a vista do amigo se apresenta, compomos o todo imediatamente, a voz, a personalidade, os hábitos, gostos e idéias. Isso é a própria percepção.
Um outro exemplo disso, são as ilusões de ótica que demonstram como percebemos as coisas ao redor do todo que percebemos primeiramente.



Figura 1: Apesar das linhas estarem paralelas, tem-se a impressão
do contrário
devido os cortes transversais que as linhas sofrem.





C) Alma que percebe
Se possuímos da realidade material uma percepção do todo, isso só se pode fazer mediante algo indivisível.
Admitindo que o que percebe a realidade é algo material, como o cérebro ou outra coisa divisível e que temos uma percepção do todo, resta-nos duas opções: ou (1)cada parte do cérebro (ou outra entidade material) percebe uma parte do todo, compondo sua totalidade a totalidade do todo; ou, ainda, (2) cada parte tem a percepção do todo.
Na primeira proposição temos duas impossibilidades: se temos percepções totais e se cada parte do cérebro tem parte da percepção, o que comporia a percepção total se não algo indiviso? Por outro lado, se não houvesse essa composição do todo, teríamos tantas percepções quanto forem as partes perceptivas, o que pode ser verificado como falsidade por qualquer pessoa, mesmo que sem o estudo da psicologia. Nesse momento, tenho a percepção de estar diante de um computador só.
Na segunda proposição, resta-nos somente a possibilidade de várias percepções da realidade, o que já foi demonstrado como falso.
Ora, se a percepção da realidade total só se pode fazer mediante algo indiviso e , por conseqüência, imaterial, podemos chamar esse "algo" de alma.

2- A reflexão
A) A Atenção
Atenção é uma orientação do conhecimento para um objeto isolado dos demais devido ao grau de interesse. Assim, num lugar silencioso, um tiro chama a atenção. Numa sociedade monogâmica, um poligâmico chama atenção. Ambos por se destacarem, se isolarem dos demais.
É possível dentre diversas classificações, classificar a atenção em objetiva e subjetiva. A atenção objetiva ou observação é exatamente quando se inclina diante de um objeto exterior, diferente de si. Já a atenção subjetiva ou reflexão é quando a atenção versa sobre o sujeito cognoscente, sobre si mesmo. A própria palavra reflexão, significa algo como dobrar sobre si mesmo. Contudo, é possível argumentar que toda atenção é objetiva já que mesmo na reflexão, haveria um objeto (o sujeito transforma em objeto, a atenção subjetiva passaria a objetiva).
Porém, há que verificar-se que ao contrário dos animais e vegetais, o homem possui uma consciência subjetiva ou subjetividade consciente. Algo como o reconhecimento de ser sujeito, a admissão do fato de que existe um "eu" e de agir através dessa consciência, exercendo sua subjetividade.
Ressalta-se que o determinismo psicológico é tal, que essa atividade inclui outros fenômenos como volição e inteligência, próprias do homem. Assim é a escolha de exercer a subjetividade mediante a vontade humana. E mesmo quando a atuação da objetividade se dá , como na atenção voluntária, presume uma certa subjetividade, um certo "presumir-se como sujeito" para que possa voltar-se ao objeto a conhecer se colocando como sujeito.
B)Natureza dos corpos
Desde a Grécia antiga, fala-se sobre a natureza dos corpos. Isto é: podem haver corpos simples e corpos compostos. Os corpos simples não seriam dotados de partes, seriam indivisíveis e daí a extensão dessa teoria por Demócrito até a atomicidade da matéria. Segundo ele, seria possível um corpo material indivisível, a que ele chamou de átomo. Há também corpos compostos por vários corpos simples. Admitindo a teoria de Demócrito,poderíamos generalizar a água como sendo um corpo composto por dois corpos simples(hidrogênio e oxigênio). No entanto, sabemos que nem hidrogênio nem oxigênio são corpos simples, por serem divisíveis em partes menores. O que vale ressaltar é que "água" existe não só sobre a união de oxigênio e hidrogênio, mas também sobre algo a mais, que regeria essa união de forma que não bastasse juntar os dois gases para obtermos água pura. Isso se dá uma vez que todas essas determinações que geram os corpos compostos são estranhas entre si. O hidrogênio é estranho à água e ao oxigênio (ou à grosso modo: o hidrogênio é diferente da água). Isso ocorrerá entre todos os corpos compostos.
C) A alma que reflete
Ora, o que é a reflexão senão dobrar-se sobre si mesmo? Imaginemos um fio de cobre. Se dobrarmos uma ponta em direção à outra de forma que se toquem, sabemos que a ponta só poderá tocar uma parte do fio. Mesmo numa folha de papel, somente uma parte poderá tocar a outra. Em nenhum corpo simples, como são os corpos materiais, a parte poderá tocar o todo, uma vez que ela é estranha ao próprio todo. Dessa forma, nada material pode refletir sobre si mesmo, ainda que tivéssemos diversas reflexões. É necessário algo simples e indiviso para refletir e a esse algo chamamos "alma".

Biblio:

Curso de Filosofia - Regis Jolivet. Vol I e II

Um comentário:

  1. Isso não tem logica alguma.

    Logico que cada parte do cérebro tem uma percepção própria, paladar, tato, visão, audição, cada uma dessas percepções do "todo" se origina em partes especificas do cérebro.

    Um psicopata tem diferentes características químicas no cérebro, ou uma alma com "defeito"

    Um esquizofrênico, percebe coisas imaginarias como se fossem reais, devido ao seu problema neurológico.

    Essas afirmações não passam de falacias sem fundamentos.

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